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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Se o treinador também fosse o árbitro...

No mundo dos esportes, os atletas vivem dois momentos distintos.

Durante o treinamento, eles desenvolvem suas habilidades, estudam estratégias, aprimoram suas técnicas, melhoram o condicionamento físico - sempre orientados por um técnico, ou treinador, que avalia cada detalhe, identifica falhas, e indica o que deve ser feito para superá-las. É um processo duro, cansativo, às vezes tedioso e doloroso, mas necessário, e cumprido com disciplina e determinação.

No momento da competição, é hora de pôr à prova todo o trabalho desenvolvido durante o treinamento. Entra em cena, então, um novo personagem: o árbitro. Novamente, o atleta estará sendo avaliado, mas é um tipo completamente diferente de avaliação, pois o objetivo, agora, é classificatório, e visa exclusivamente determinar quem sobe no pódio, e quem fica de fora. Embora o treinador ainda possa dar orientações importantes ao seu atleta, não lhe cabe estabelecer os critérios da competição, opinar sobre a arbitragem, muito menos influir em sua classificação.

O atleta percebe, claramente, que seu treinador não tem influência sobre os resultados da competição e, portanto, reconhece que sua única chance de vencer é seguir, com disciplina e determinação, suas orientações durante o treinamento. Cria-se, assim, uma relação de admiração, respeito e cooperação, entre treinador e atleta, que trabalham juntos, para o mesmo fim.


No mundo da Escola, entretanto, esses dois papéis - treinador e árbitro - são atribuídos a um único personagem: o professor. É ele quem avalia as falhas ao longo do processo de aprendizagem, quem indica tarefas e exercícios a serem cumpridos com o objetivo de corrigir eventuais deficiências, e é ele, também, quem estabelece os critérios das "provas", e atribui as notas que vão definir se o aluno será aprovado ou não.

Ao contrário do atleta, o aluno percebe que o professor acumula as duas funções e, portanto, deduz que existem dois caminhos para a aprovação: ou ele se empenha em seguir, com disciplina e determinação, as orientações do professor, ou busca o caminho mais fácil, e tenta convencê-lo a relaxar os critérios da avaliação. Cria-se, assim, uma relação de antagonismo, entre aluno e professor, que passam a trabalhar como se estivessem em lados opostos.

Como desdobramento inevitável desse processo, o professor também deduz que existem dois caminhos para obter "sucesso" na aprovação de sua turma: ou ele luta contra o instinto natural de seus alunos (e dele próprio), e se empenha em encontrar artifícios para convencê-los a enfrentar a disciplina do estudo, ou ele se rende à lei do menor esforço, relaxa os critérios da avaliação, e vão todos felizes para casa.

Esta é a receita do famoso "pacto de mediocridade", tão conhecido nas Escolas de nosso país, onde o professor finge que ensina, e o aluno finge que aprende.


É óbvio que a avaliação no ensino deve ter o objetivo de melhorar o processo de aprendizagem, mas também é óbvio que, em algum momento, o aluno terá que ser submetido a uma avaliação classificatória, que vai decidir se ele atingiu ou não um conjunto de critérios previamente estabelecidos.

O que aconteceria, nos esportes, se o treinador fosse também o árbitro das competições? teríamos atletas verdadeiramente competitivos?

Se você, assim como eu, pensa que a resposta é não, então responda-me: Por que, então, aceitamos que esse sistema ilógico seja aplicado à Educação?

Sem metas, não há estímulo;
sem estímulo, não há determinação;
sem determinação, não há superação;
sem superação, há mediocridade.


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