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terça-feira, 31 de março de 2009

Liberdade para Remixar

Sempre que eu tento explicar a alguém os princípios do software livre, sinto que há uma certa dificuldade, para quem não é programador, em compreender a importância da "liberdade para modificar" o código original. Geralmente, as pessoas ou não demonstram entusiasmo algum pela ideia, ou até condenam o fato de alguém "se aproveitar" de um trabalho existente para criar um trabalho "derivado", argumentando que isso é um estímulo à "falta de criatividade" ou, num discurso mais comercial, que é um "desestímulo à criação original". Muitos não percebem o potencial criativo que pode emergir quando as pessoas têm liberdade para aplicar sua criatividade sobre a criação de alguém.

Ao tomar conhecimento do vídeo que apresento abaixo, percebi imediatamente que esse é o exemplo perfeito para explicar o significado, a importância, e o poder da "liberdade para modificar".

Kutiman é um músico israelense, que pegou dezenas de vídeos amadores no YouTube e os recortou e remixou, criando algo completamente novo, original, vibrante, distinto de qualquer um dos vídeos iniciais - e absolutamente fantástico. O trabalho foi colocado, obviamente, de volta no YouTube, como uma série de (até o momento) 7 vídeos, apropriadamente intitulados "Thru-you".

Kutiman-Thru-you - 01 - Mother of All Funk Chords:


Todos os vídeos da série trazem os links para os vídeos originais, que serviram como "matéria-prima". Dê uma olhada nesses vídeos. Fica claro, nesses exemplos, que a criação do Kutiman não se trata de "trabalho derivado". Ele não apenas "modificou" ou "adicionou" algo aos vídeos originais. Com sua fantástica criatividade, ele foi capaz de recortar cada vídeo original, modificando sua própria essência. A composição desses vídeos, recortados e remixados, não é semelhante, em nada, a nenhuma das ideias dos trabalhos originais. É algo totalmente novo. Inédito.

Observe, por exemplo, o vídeo "Someday", apresentado abaixo. Dois dos seus principais "ingredientes" são: o vocal, e a melodia básica, tocada em um sintetizador. O fato interessante é que o Kutiman recortou a sequência do vocal, mudando a letra, a melodia e o tempo da canção original (Soon) e, mais impressionante ainda, é que o vídeo original do sintetizador não contém melodia alguma, apenas uma sequência de notas, pois seu autor queria apenas demonstrar que algumas teclas apresentavam problemas.

Kutiman-Thru-you - 05 - Someday:


A banda Radiohead já fez experimentos nesse sentido, fornecendo em seu site a "matéria-prima", em trilhas originais, e permitindo que as pessoas pudessem remixá-las à vontade, colocando-as de volta no site, mas nada tão radical, nem tão original quanto o Kutiman.

Agora, extrapole esse conceito para todas as outras formas de criação humana.

Remixando John Lennon: imagine um mundo onde tudo - idéias, conceitos, algoritmos, fórmulas, produtos, tecnologias, textos, músicas, pinturas... - pudesse ser compartilhado, sem restrições legais, sem proibições quanto ao acesso, uso, modificação ou redistribuição. Não se trata apenas do acesso gratuito - isso nada tem a ver com preço ou custo - trata-se da liberdade para recriar, modificar, transformar e combinar ideias, dando origem a coisas completamente novas, sem burocracia - trata-se de permitir uma verdadeira e profunda revolução cultural, científica, tecnológica, muito além da imaginação de qualquer um de nós, através da livre combinação do poder criativo de bilhões de pessoas.

As tecnologias necessárias para esse novo mundo já estão disponíveis, hoje. Espero que não demore muito para que toda a sociedade perceba isso.

Você pode ver a série completa dos vídeos no site thru-you.com.

Leia mais sobre esse assunto:
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segunda-feira, 30 de março de 2009

A Máquina que Mudou o Mundo

The Machine That Changed the World é o maior e mais completo documentário já produzido sobre a história do computador, mas desde seu lançamento, em 1992, tornou-se virtualmente extinto. Fora de edição, e nunca publicado online, as únicas cópias disponíveis foram feitas em fitas VHS. Felizmente, esses vídeos foram digitalizados, e estão espalhados pela web.

Ao contrário da maioria dos documentários, este dedica-se não apenas à cobertura dos fatos históricos, mas principalmente à análise dos desafios científicos e tecnológicos, relacionando de forma excepcionalmente didática os problemas, as soluções, e suas implicações.

Produzido conjuntamente pela WGBH Boston e pela BBC, o documentário traz imagens raras e depoimentos exclusivos com personagens que fizeram parte da criação dos primeiros computadores, até a gestação da internet. Obviamente, ele não contempla as evoluções mais recentes, mas ainda assim, é uma jornada fascinante. Imperdível.

Os cinco episódios podem ser vistos nos links abaixo:

1 - Giant Brains


2 - Inventing the Future


3 - The Paperback Computer


4 - The Thinking Machine


5 - The World at Your Fingertips


Também recomendo esses links, com materiais adicionais:

Virginia Tech
Computing History Museum
Waxy.org

sexta-feira, 27 de março de 2009

MIT: Produção de alta tecnologia é "espetacularmente ineficiente"

Processos de fabricação de produtos de alta tecnologia são "espetacularmente ineficientes, no uso de energia e material", de acordo com cientistas do MIT. Os pesquisadores estudaram 20 indústrias, incluindo fabricantes de semicondutores e células solares. Segundo a pesquisa,
"De modo geral, novos sistemas de produção consomem entre mil e um milhão de vezes mais energia, por grama de produto, que indústrias mais tradicionais. Grama por grama, a fabricação de microchips usa ordens de magnitude mais energia que a fabricação de objetos em ferro fundido."
O professor Timothy Gutowski, do departamento de engenharia mecânica do MIT conduziu a análise, e explica que uma comparação da eficiência energética é o primeiro passo para otimizar novos métodos de manufatura, preparando-os para o contínuo crescimento de produção. Segundo ele, fabricantes estão mais preocupados com preço, qualidade e vida útil dos produtos, e não com a energia - o que se torna uma preocupação, se o custo da energia subir, ou se taxas por emissão de carbono forem aplicadas.
"O uso aparentemente extravagante de recursos materiais e de energia em muitos dos processos recentes de manufatura é alarmante, e precisa ser revisto, juntamente com as afirmações de sustentabilidade de produtos manufaturados por tais processos"
O pesquisador toma o exemplo dos painéis solares de silício:
"A ineficiência inerente aos processos de fabricação dos atuais painéis solares pode reduzir drasticamente a relação entre a energia produzida por esses painéis ao longo de sua vida útil, e a energia necessária para sua fabricação."
Apesar de alarmantes, os resultados da pesquisa são conservadores, pois incluem somente recursos aplicados diretamente no processo, e não os recursos utilizados na produção das matérias-primas, nem energia aplicada em condicionamento e filtragem do ar nas salas limpas, por exemplo.

Fonte: ElectronicsWeekly

domingo, 22 de março de 2009

Gilmar Mendes, Protógenes Queiroz e a Satiagraha

Um breve resumo:

A Operação Satiagraha é uma operação da Polícia Federal Brasileira contra o desvio de verbas públicas, a corrupção e a lavagem de dinheiro, desencadeada no início de 2004 e que resultou na prisão, em 8 de julho de 2008, determinada pela 6ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, de vários banqueiros, diretores de banco e investidores, dentre os quais, o banqueiro Daniel Dantas.

A partir daquele momento, o que deveria ser mais uma bem sucedida operação da PF, sofreu uma reviravolta surpreendente.
  • Em 9 de julho, menos de 24 horas após a prisão, "o presidente do STF, Gilmar Mendes, decidiu pela liberação do empresário Daniel Dantas, de Verônica Dantas (irmã e parceira de negócios), e de mais nove pessoas presas na terça na Operação Satiagraha da Polícia Federal." - Folha Online.
  • Em 14 de julho, Protógenes Queiroz, o delegado da PF que conduziu as investigações, é afastado do caso, e investigado em duas sindicâncias internas na PF.
Muita água rolou desde então, sempre no sentido de incriminar e desqualificar Protógenes e sua equipe, acusados de usar os recursos da PF para fazer, de forma indiscriminada, escutas telefônicas sem autorização. Mesmo sem jamais surgir uma prova sequer sobre a materialidade de tais escutas, esse assunto se disseminou na mídia dominante, como uma verdade absoluta, inquestionável.

O escândalo mais recente:

Leandro Fortes, jornalista da Carta Capital, denuncia:
No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado “Comitê de Imprensa”, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha.

(...)

Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.

Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.

Felizmente, os vídeos estão disponíveis no YouTube (até que alguém os tire de lá, também). Sem dúvida alguma, é uma entrevista que vale a pena ser vista, e divulgada. Nela, os jornalistas expõem, de forma clara e didática, um pouco do que está por trás de toda essa história.







Não podemos deixar que a censura retorne em nosso País.

Denuncie, passe esse link adiante, e deixe seu comentário.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Qual é a melhor Distribuição Linux?

Basta olhar nas ruas: há milhares de automóveis, todos diferentes entre si. São dezenas de fabricantes, cada fabricante com dezenas de modelos, cada modelo com dezenas de configurações opcionais. E ninguém pergunta "Qual é o melhor automóvel?".

O mesmo acontece com os celulares, eletrodomésticos, roupas, sapatos... há milhares de opções, e nós convivemos normalmente com isso. Ninguém se prende à pergunta "qual a melhor opção?". Simplesmente damos uma olhada, conversamos com o vendedor, avaliamos as características de cada opção e fazemos a nossa escolha, individualmente.

Por que, então, a pergunta "Qual a melhor distribuição Linux" é tão frequente?

Acho que a principal razão é o medo do desconhecido. Mesmo havendo diferentes modelos de automóveis, todos temos a tranquilidade de escolher, porque sabemos que todos eles funcionam de forma muito semelhante: os pedais, câmbio, volante estão sempre nos mesmos lugares, e funcionam sempre do mesmo jeito (com pequenas diferenças, que aprendemos rápido). Muitas pessoas não sabem sequer como acender o farol alto em seus automóveis, nem os cuidados básicos de manutenção, mas também não ligam para isso. Tudo o que importa é que, ao girar a chave, o motor funciona, e você pode sair dirigindo.

Como o uso de computadores não é tão simples, as mudanças provocam medo. Medo de não encontrar aplicativos para as coisas que você normalmente faz, medo da incompatibilidade com os sistemas que as outras pessoas usam, medo de ter que aprender a usar ferramentas completamente diferentes. Quanto a isso, eu posso tranquilizá-lo: o Linux não é o bicho-papão. Há aplicativos equivalentes a quase todos os que você possa conhecer, a compatibilidade é maior entre os softwares livres que entre os proprietários (fechados), e as interfaces não são tão diferentes, que dificultem o uso.

Procure, portanto, livrar-se do medo, e essa resposta virá com naturalidade, assim como todas as demais escolhas que você faz, diariamente. A melhor distribuição Linux é aquela que melhor se adapta às suas necessidades.

Se você é um usuário avançado, então nem deveria estar lendo esse artigo! - eu não tenho nada a dizer a você, mas se você é um usuário iniciante no Linux, e não está interessado em ser um especialista para poder usá-lo, procure uma distribuição de grade aceitação (os top-10 do DistroWatch, por exemplo), com uma grande comunidade de usuários que falem seu idioma.

Atualmente, eu uso o Ubuntu. É uma distribuição dedicada ao usuário normal de desktop, com uma grande comunidade de usuários no Brasil.

O que é uma Distribuição Linux?

O Sistema Operacional é, como o nome já diz, o sistema (ou programa) que trata da operação básica do computador. É ele o responsável pela coordenação do funcionamento de todos os componentes de hardware (unidades de disco, placas de rede, som, vídeo, portas seriais, USB, paralelas, teclado, mouse, scanners, impressoras, câmeras...), e também dos componentes de software - os diversos aplicativos que você deseja executar.

O Linux, como já vimos, é apenas o núcleo desse complicado sistema. Além do núcleo, há vários outros componentes, como o shell, que faz a interface com o usuário, e um enorme conjunto de programas utilitários (para listar diretórios, copiar arquivos, cadastrar usuários, etc), que formam o Sistema Operacional propriamente dito. Mas o SO, sozinho, é inútil. É como um carro sem os bancos, sem o bagageiro. Funciona, mas não é usável.

Qualquer pessoa que já tenha comprado um computador com o Sistema Operacional Windows sabe disso: você chega em casa, tira o computador da caixa, conecta todos os cabos, liga na tomada e... nada! - você dá de cara com uma tela colorida, uma setinha que se mexe com o mouse, mas não há nada de útil para fazer com ele (exceto jogar paciência!), porque não há nenhum aplicativo instalado nele.

Para tornar seu sistema realmente útil, você precisa de um conjunto de Aplicativos: editor de textos, planilha, navegador de internet, gerenciador de arquivos, reprodutor multimídia... e é esse o papel de uma Distribuição.

A Distribuição (ou "distro", para os íntimos), nada mais é que um pacotão que integra SO + Aplicativos, tudo prontinho, ajustado, configurado, com ferramentas próprias para facilitar a instalação e desinstalação de novos aplicativos. Enquanto os usuários do sistema Windows têm que enfrentar uma longa jornada para instalar e configurar todos os seus aplicativos preferidos, um a um, uma distribuição baseada em softwares livres traz isso tudo pronto.

Por serem compostas por softwares livres, cada distribuição tem total liberdade de escolher qual o melhor conjunto de aplicativos e configurações. Cada distribuição tem um objetivo em mente, por exemplo, algumas são direcionadas a aplicações profissionais, como servidores web ou computação científica, outras são direcionadas a programadores, outras a jogos, ou a multimídia, ou a escritório... não significa que cada distribuição esteja restrita e limitada àquele esse fim, pois o usuário pode instalar novos aplicativos e modificar as configurações a qualquer momento. Você pode, inclusive, criar a sua própria distribuição, e compartilhá-la com seus amigos, vizinhos, colegas, etc.

Lembre-se sempre: se o software é Livre, isso significa que você tem liberdade para fazer o que você quiser.

Uma "Distribuição Linux" é, portanto, uma distribuição que contém o Linux como seu núcleo, além de uma infinidade de outros componentes, previamente instalados e configurados. Como cada pessoa tem a liberdade para criar sua própria distribuição, é impossível enumerar quantas distribuições existem, mas o site DistroWatch lista as 100 distribuições mais usadas.

Diante de tantas opções... Qual é a melhor Distribuição?

Não só de Linux vive o Software Livre!

O vídeo abaixo, muito popular no YouTube, conta a história do Linux, relacionando-o aos conceitos de inovação, modernidade, desenvolvimento, qualidade, estabilidade, etc. Isso é ótimo e, em termos gerais, o vídeo cumpre muito bem com seu papel, mas comete alguns erros, que eu não poderia deixar de comentar aqui.



O video afirma que o Linux, iniciado em 1991, criou o conceito de Software Livre
"(...) ao desenvolvê-lo, Linus quebrou todos os conceitos comerciais da história, e deixou aberto o código-fonte do sistema. Surgiu aí uma grande mudança, um fenômeno sem precedentes na história da evolução humana, a do Software Livre".
Embora eu seja fã do Linux, tenho que defender a História:

Desde o início da computação moderna (anos 50), o software sempre foi desenvolvido abertamente, em processo colaborativo, geralmente envolvendo empresas e universidades. Isso por duas razões principais: primeiro, naquela época, os computadores eram máquinas enormes, caríssimas, e ninguém via valor comercial no software; segundo, porque a infraestrutura de software era muito limitada (ausência de compiladores, sistemas operacionais, grande incompatibilidade entre diferentes hardwares...), o que tornava a atividade de programar extremamente complexa, exigindo a colaboração entre os poucos profissionais capacitados.

Com o surgimento dos microcomputadores, nos anos 70, que passaram a vender milhares de unidades, surgiu também a oportunidade para vender software. Foi aí que um tal de Bill Gates, presidente de uma tal de Micro-Soft (ambos eram absolutamente desconhecidos, na época), escreveu uma carta, criticando o hábito de compartilhar softwares de maneira aberta (ato que ele compara a "roubar"), e defendendo o direito à propriedade intelectual (copyright) sobre o desenvolvimento de software. Nesse momento, surge o conceito de Software Proprietário.

Para rebater esse movimento, Richard Stallman, em 1985, criou a Fundação do Software Livre, com o objetivo de coordenar a divulgação e defesa dos conceitos de Software Livre e de copyleft (o oposto ao copyright), a elaboração da licença GPL (General Public License), assim como o desenvolvimento de um sistema operacional livre, anterior ao Linux, chamado GNU.

O Projeto GNU criou toda a infraestrutura necessária ao funcionamento de um Sistema Operacional, faltando apenas um componente chamado kernel (núcleo). Comparando com um automóvel, que é formado por inúmeros componentes (suspensão, rodas, freios, chassis, direção, câmbio, sistema elétrico... e motor), um SO também é formado por inúmeros componentes, e o kernel é apenas um deles, responsável por coordenar a execução das diversas tarefas, e a alocação dos diversos recursos. Pela sua importância, o kernel pode ser comparado ao motor de um automóvel - o componente principal - se é que alguém pode dizer que o motor é mais importante que os freios, ou a direção...

O GNU teria seu próprio kernel, chamado HURD, mas seu desenvolvimento, baseado no moderno conceito de microkernel, ou kernel modular, tornou-se complexo demais, e não prosperou. Foi aí que surgiu o Linus Torvalds, com uma abordagem mais pragmática, e desenvolveu o kernel Linux, adotando o antigo e bem conhecido conceito de kernel monolítico, muito mais fácil de desenvolver, e com desempenho melhor.

O Linux, então, foi integrado ao GNU, formando o sistema operacional GNU/Linux, que as pessoas, por simplicidade ou desconhecimento, referem-se apenas como "Linux". Comparando com equipes de Formula1, a "McLaren" pilotada por Ayrton Senna pertencia à equipe formalmente chamada McLaren/Honda (carro da McLaren, com motor da Honda).

O vídeo também atribui ao Linux a criação do modelo de desenvolvimento colaborativo
"(...) formou-se então uma verdadeira comunidade de cooperação, com milhares de desenvolvedores ao redor do planeta, trazendo consigo mais uma mudança impressionante: a forma de trabalho em desenvolvimento de projetos."
O conceito de desenvolvimento colaborativo não surgiu com o Linux. Embora ele seja um dos mais importantes exemplos, pelo seu tamanho, visibilidade e número de desenvolvedores, não é o único, muito menos o primeiro. O projeto GNU, citado acima, já era desenvolvido de forma colaborativa e, paralelo ao Linux, milhares de outros grandes projetos de software são desenvolvidos colaborativamente.

Software Livre é um conceito amplo, que define quatro liberdades básicas para desenvolvedores ou usuários de software:
  • A liberdade para executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº 0);
  • A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
  • A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº 2);
  • A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade nº 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
Resumindo:
  • O Linux é apenas um importante exemplo de Software Livre, mas não é o único.
  • Dada a sua importância e visibilidade, o Linux contribuiu muito para a difusão do conceito de Software Livre, mas não é o seu criador.
  • Os sistemas operacionais que atualmente chamamos de "Linux", na verdade são a combinação de dois grandes projetos: o sistema operacional GNU, mais o núcleo Linux.
Feitas essas correções - que não invalidam nem diminuem o valor desse vídeo, recomendo a leitura dos seguintes artigos:

O que é uma Distribuição Linux?
Modelos de Negócios Baseados em Software Livre

segunda-feira, 2 de março de 2009

TouchBook: Um tablet / netbook 100% open-source

Que tal um tablet com tela de 8.9", resolução de 1024x600, armazenamento de 8GB (micro SD), WiFi, acelerador 3D, alto-falantes, microfone, 6 conectores USB, e bateria com capacidade para 10 a 15 horas de funcionamento? Nada mal, hein?
E... que tal se esse tablet tiver um teclado destacável, que pode ser usado como um mini-notebook, ou dobrado para trás?


Essa é a proposta inovadora, de uma empresa chamada Always Innovating, com lançamento previsto para maio ou junho deste ano. Segundo a própria empresa:
"Até agora, todos os netbooks eram projetados da mesma forma: um Intel Atom comedor de energia, caixa esquisita, e SO ultrapassado dos anos 90. Nosso objetivo: dar um salto tanto em arquitetura quanto em design. O resultado: um dispositivo revolucionário que funciona como um netbook ou como um tablet, graças a um teclado destacável e uma interface 3D com tela de toque."
O TouchBook é equipado com processador ARM (daí a longevidade da bateria), mas o fabricante garante que ele não deixa a desejar em desempenho, e é capaz de realizar as funções normais de qualquer netbook, inclusive exibir vídeos da web.

A grande novidade, entretanto, é a sua proposta totalmente open-souce: seu hardware é baseado na BeagleBoard, e os diagramas esquemáticos podem ser baixados aqui, sob GPL. No software, o assim chamado TouchBook OS é baseado no OpenEmbedded, uma distribuição Linux para sistemas embarcados, acompanhado com o Fennec, o navegador na Mozilla para dispositivos móveis.

Quem quiser ser um dos primeiros a colocar as mãos nessa maravilha, pode registrar sua reserva aqui (se tiver um parente / amigo nos EUA).

Notícia Relacionada: OLPC X0-2 terá hardware livre

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