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domingo, 24 de janeiro de 2010

Sobre pseudociências e pseudocientistas

Na entrevista abaixo(*), o Físico Richard Feynman fala sobre as pseudociências, e os pseudocientistas - pessoas que promovem e divulgam conceitos duvidosos, baseados meramente em suposições, mas sem fundamentação experimental, como se fossem fatos científicos.




De fato, vemos pseudocientistas por toda parte. Para mim, isso é mais que simples desinformação, ou mera falta de cuidado... é reflexo de uma doença grave que está se instalando no sistema acadêmico. Em todos os lugares, criam-se índices para tentar medir a "produção científica" de cada pesquisador e instituição de pesquisa. A pressa para publicar "artigos científicos", e assim conseguir melhores índices, quase que sistematicamente induz pesquisadores à fabricação de resultados.

Eu já li muito "paper" sem nenhum valor científico, e até já publiquei aqui, neste blog, que um artigo gerado aleatoriamente, sem nenhum nexo, foi aceito em uma conferência do IEEE. Um escândalo! - e qual a explicação para isso? - é simples: essas conferências se tornaram muito lucrativas, cobrando valores exorbitantes pela inscrição de cada participante. Acontece que, via de regra, um pesquisador só paga a inscrição se conseguir ter um artigo "aceito" - assim, para ser lucrativa, a conferência tem que "aceitar" uma quantidade grande de artigos.

Somam-se a esse efeito os cientistas que, intencionalmente, direcionam os resultados de suas pesquisas para satisfazer a algum interesse econômico, ou pessoal (e tem diferença?). O Feynman cita como ilustração o "especialista em alimentos orgânicos"... daí, eu acrescento: e se esse especialista for patrocinado por alguma empresa que produz fertilizantes orgânicos???

Os pseudocientistas podem ser encontrados em todas as áreas do conhecimento, mas há, ainda, o lado das pseudociências - áreas inteiras do conhecimento, que não nos levam a lugar algum.

Tem muita gente seguindo o "rito" científico, sem fazer ciência. O objetivo da ciência é criar modelos - ou seja, relacionar, com algum grau de precisão (ou certeza), causa e efeito. As ciências não precisam ser todas exatas, mas precisam, sim, relacionar causa com efeito, com algum grau de certeza.

Acontece que existem áreas inteiras do conhecimento que se esqueceram desse "pequeno detalhe", e passaram a produzir toneladas de artigos científicos que elaboram teorias mirabolantes, mas sem qualquer intenção de estabelecer relações de causalidade, ou mesmo de sustentar suas afirmações com dados factuais. Formam-se, então, categorias inteiras de pseudocientistas que discutem, entre si, o sexo dos anjos. Esses geralmente são os "especialistas em coisas que nunca aconteceram" (**), como os historiadores que explicam cientificamente por que o Bin Laden detonou as Torres Gêmeas, ou os tantos economistas que explicam por que a economia derreteu em 2008, ou os psicólogos que tentam explicar o massacre de Columbine.

Esses desvios, mesmo pontuais, corroem a credibilidade da ciência, como um todo. A humanidade levou séculos para se libertar da verdade imposta pela Igreja, substituindo-a por um método científico transparente e imparcial e, hoje, a mercantilização (e consequente banalização) da ciência ameaça destruir toda a credibilidade conquistada. Estou sendo dramático?

No passado, em situações difíceis, os reis consultavam os "sábios" que, com seus métodos enigmáticos, lhes ajudavam a tomar decisões. Daí surgiram o Tarô, a Astrologia, a Quiromancia, etc...

Hoje, em situações difíceis, os governantes modernos consultam os "cientistas" que, com seus métodos igualmente enigmáticos, também ajudam a tomar decisões. Daí surgiram a Economia, a Pedagogia, Sociologia, etc...

Alguém se arriscaria a incluir nessa lista os meteorologistas, e suas discussões sobre as causas do aqueciemento global??? - Com todos os interesses econômicos que estão por trás dessa discussão, eu não descarto nada!

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(*) Esse vídeo é um pequeno trecho do programa "The Pleasure of Finding Things Out" (O Prazer de Descobrir as Coisas), exibido pela BBC, em 1981.

(**) Expressão genial, criada pelo Casseta & Planeta, exatamente para ironizar os vários "especialistas" que tentavam explicar os atentados de 11/09/2001.

Referências:

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

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