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sábado, 19 de dezembro de 2009

A diferença entre Invenção e Inovação: Digitalização de Livros

Inovar não é apenas criar algo novo ou diferente... é criar algo surpreendente.

Uma dupla sertaneja pode ser muito criativa na composição de suas letras e arranjos, mas... será sempre uma dupla sertaneja! - a criação (invenção) de músicas novas não implica, necessariamente, em inovação. É verdade que algumas "duplas sertanejas" têm apenas um integrante... o que me deixa um tanto confuso... mas isso não é exatamente o que eu quero dizer quando me refiro a "surpreendente". (nada contra as duplas sertanejas, ok? - talvez eu não entenda muito desse gênero musical...)

Eu estava procurando soluções para digitalização de livros, e vejam o que eu encontrei:

Geralmente, quando pensamos em digitalização de textos, pensamos em scanners: aqueles equipamentos que vasculham a página, de cima a baixo, lendo-a linha por linha. Scanners são lentos, e alguns deles são barulhentos... Existem centenas de modelos diferentes de scanners, todos eles diferentes entre si, mas não há nada de surpreendente neles... não mesmo???



Apenas por curiosidade, como isso foi feito? - o ruído que normalmente ouvimos num scanner vem de seu motor de passo - um tipo de motor que, a cada pulso de comando elétrico, gira precisamente um determinado ângulo (um "passo"). Controlando a frequência dos pulsos de comando, controlamos a frequência do ruído emitido por ele. Daí, basta que alguém totalmente desocupado se dedique a afinar os tons, e programar a música.

Mas vamos em frente, afinal, reprogramar um scanner para tocar música é algo surpreendente, mas não é muito útil...

Scanners de mesa são interessantes para digitalização de folhas soltas, mas sua operação com livros (principalmente os grandes, pesados e volumosos) torna-se basante complicada. Para virar cada página, você tem que erguer o livro inteiro, virá-lo para cima, virar a página, e assentá-lo novamente sobre o vidro, tomando cuidado para esticar as páginas corretamente. Além de trabalhoso e improdutivo, esse processo é muito insalubre para o operador.

Uma solução óbvia para esse problema é inverter todo o mecanismo, deixando o livro confortavelmente apoiado sobre uma mesa, e escaneando-o por cima:


Mas esse processo ainda é lento demais!!! - Por que os scanners têm que funcionar dessa forma? - simplesmente por "tradição" tecnológica. O processo de escaneamento vem das antigas máquinas (analógicas) de fotocópia: apenas adaptaram o mesmo mecanismo a um sensor digital (o CCD), para digitalizar a imagem, linha por linha.

Os CCDs são os mesmos dispositivos usados nas câmeras digitais, para captar fotografias. Mas... as câmeras digitais não escaneiam mecanicamente a imagem de um lado a outro... por que os scanners ainda continuam fazendo esse processo mecanicamente? Isso era justificável na década de 80, quando os CCDs ainda estavam em sua infância, e o custo por pixel era alto - a solução, na época, era construir CCDs com todos os pixels em uma única linha (no eixo X, digamos), e mover mecanicamente o sensor ao longo do eixo Y. Hoje, temos CCDs bidimensionais, com milhões de pixels, de forma que a imagem é projetada sobre sua superfície, e captada de uma só vez.

Então, em vez de scanners, podemos usar câmeras fotográficas para digitalizar a página intera em um click! - em tese, esse processo será muito mais rápido. Vejam como seria:


Bem... dá pra ver que a captura é bem mais rápida, pois cada página é fotografada instantaneamente por uma câmera, mas o processo de virar manualmente as páginas ainda não é dos mais elegantes. Será que não há um jeito melhor de fazer isso, automaticamente? Vejam algumas soluções:

Primeiro, uma solução caseira:


ok... acho que essa ideia pode até ter futuro, mas ainda tem que melhorar muito...

Agora, uma solução mais profissional:



Não sei... confesso que essa máquina me dá medo! - ela é complexa demais!!! - fico imaginando que, um dia, ela pode tornar-se autoconsciente, e sair andando pelas ruas, com uma metralhadora nas "mãos", atirando prá todos os lados. Ok... talvez eu esteja vendo muitos filmes... mas lembre-se que essas máquinas vão ler todos os nossos livros! - melhor não facilitar... e mesmo que ela não se torne o Exterminador do Futuro... imagine o dia que ela precisar de manutenção!

O problema com esses dois mecanismos vistos acima é que eles tentam imitar o movimento humano, e esse é o ponto central deste artigo: Sempre que criamos algo, partimos de conceitos pré-existentes. Uma nova música sempre traz elementos de estilos existentes, uma nova máquina sempre usa conceitos de tecnologias anteriores.

Ninguém pode negar que, com exceção da música sertaneja, há muita criatividade e engenhosidade em todos os exemplos mencionados até aqui. Entretanto, nenhum deles é surpreendente; por mais complexas e elaboradas que sejam, em suas implementações, todas essas soluções são óbvias, em seus conceitos. Nada disso é inovador.

Finalmente, a solução genial, surpreendente, e inovadora:


Surpreender é fazer com que uma pessoa diga: "caramba! porque eu não pensei nisso antes!" - e foi exatamente essa a minha reação ao ver essa solução. É um sistema extremamente simples, rápido e eficiente, e seus autores conseguiram essa proeza, porque se libertaram dos conceitos existentes, e conseguiram pensar de forma verdadeiramente inovadora:

Abrir o livro totalmente, como nos scanners tradicionais, estraga a encadernação - assim essa solução apoia o livro em "V". O suporte permite ainda o ajuste para livros de qualquer espessura. Em vez de tentar criar complexos mecanismos para imitar o movimento humano, as páginas são viradas pelo próprio mecanismo de captura da imagem: ao encostar o vidro em V no livro, cria-se uma leve sucção, que une as páginas enquanto o mecanismo sobe, e um pequeno jato de ar vira as páginas para a esquerda, quando escaneadas. Tudo é muito simples... engenhosamente simples... inovadoramente simples.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O certo, o errado, e eu

Você já teve a sensação de estar ficando maluco, por ter que explicar coisas óbvias, enquanto coisas absurdas parecem ser aceitas como normais?

Nossos políticos em Brasília são uma fonte inesgotável de exemplos assim: o sujeito é flagrado enfiando dinheiro de propina nas meias, e justifica, de forma muito simples: "só coloquei nas meias porque não uso mala". Pronto! tá tudo explicado! - Ele nem se dá o trabalho de negar a acusação!!!

Mas não quero aqui falar da (i)moralidade na política. O que realmente me assusta é a inversão de padrões morais em nosso dia-a-dia.

Apenas como exemplo, para iniciar minha reflexão, vou retomar (agora que a discussão já esfriou) o caso da estudante da Uniban, que quase pôs a universidade abaixo por causa de um vestido curto.

A estudante virou celebridade nacional, com entrevistas em horário nobre e destaque em capas das principais revistas. Durante 15 dias, esse parecia ser o assunto mais importante no país: todos queriam opinar se a moça tinha ou não o direito de usar um vestido curto dentro da universidade, se os estudantes tinham ou não o direito de provocar aquele ataque, e se a instituição tinha ou não o direito de expulsar a estudante. Ao final de toda a discussão... quem estava certo? e quem estava errado? alguém sabe? - alguém se importa?

Esse debate terminou exatamente como começou: cada um com sua opinião, baseada em nada, sem uma conclusão mais ampla. O que acontecerá, por exemplo, quando um aluno resolver assistir aula sem camisa? teremos toda essa polêmica novamente? o que aprendemos nesse debate?

Para mim, a conclusão é simples: todos estavam certos, em princípio, mas todos agiram de forma errada (ouch?! - isso é possível???), mas meu foco, aqui, não é discernir o que é certo ou errado.

Esse texto trata da aparente falta de interesse (ou coragem) em discutir seriamente cada questão, e chegar a conclusões. Perdidos na polêmica vazia entre o certo e o errado, onde relativizamos todos os valores, talvez como forma de libertação dos padrões absolutos impostos pelo regime militar de outrora, estamos caindo num outro tipo de regime absolutista: uma sociedade amoral, onde "é proibido proibir" - e também questionar, criticar, opinar...

Confundimos Democracia com Anarquia, Autoridade com Autoritarismo... condenamos todo tipo de norma, regra ou padrão (moral?) como algo absolutamente inaceitável, e aceitamos a banalização e relativização de tudo, como algo natural. Nesse cenário, onde o sofisma subjuga a lógica, todos os argumentos passam a ser válidos.

Sou professor, e sempre que questiono a utilidade e a relevância daquilo que estamos ensinando, recebo dos colegas respostas do tipo: "Todos nós estamos aqui, dando o nosso melhor, cumprindo nossos horários, seguindo os conteúdos... e vem você questionar a qualidade de nosso trabalho?!?! - quem você pensa que é??? - pensa que é melhor que os outros???"

Pois é... aí eu tenho que justificar o óbvio...

É possível produzir uma educação medíocre, mesmo cumprindo todo o conteúdo e carga horária. Educação é um processo coletivo, onde a soma de disciplinas (desconexas) não resulta, necessariamente, numa formação integrada. E por aí vai...

Todos sabem que a qualidade do que fazemos é ruim, mas... quem pode provar? Diante de qualquer crítica, citamos nossos currículos! "Somos mestres, doutores, especialistas! - como nosso trabalho pode ser ruim?". Nada é mais cansativo que ter que justificar o óbvio... Nada é mais desesperador que ver a lógica se dissolver em meio ao sofisma...

Felizmente, quando me vejo perdido nesse caldeirão, onde o certo e o errado se misturam, e onde é proibido questionar, posso contar com a lembrança da sábia definição, deixada por meu pai:
"Certo é tudo aquilo cujas consequências você pode encarar de cabeça erguida."
Pronto. Isso me basta para seguir em frente.

PS: É claro que, quando meu pai falava em "cabeça erguida", ele não era capaz de imaginar a cara-de-pau que as pessoas têm, para defender de cabeça erguida o indefensável. Assim, a definição ainda me é suficiente.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Google Chrome (Beta) disponível para Linux!

Após longos meses de espera, finalmente os usuários Linux podem rodar o Chrome como aplicação nativa.


Até agora, o navegador desenvolvido pelo Google estava disponível apenas para os sistemas Windows. Os usuários Linux podiam rodar a versão Windows via Wine, mas essa não era uma boa alternativa - eu mesmo testei há menos de um mês, e o desempenho era ruim, fazendo a CPU trabalhar em 100% em qualquer página com JavaScript.

Esta primeira versão para Linux, apesar de ser Beta, parece estar bastante estável. Instalou sem problemas (via .deb, no Ubuntu 8.10, 32bits), reconheceu automaticamente todos os plugins configurados no Firefox, e executou páginas com JavaScript (Google Docs) com um desempenho fantástico.

Para baixar, clique aqui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Para quem gosta de reclamar das dificuldades

William Kamkwamba nasceu no Malawi. Aos 14 anos, em meio à pobreza e fome, guiado somente pelas ilustrações de um livro de física (em inglês), construiu um moinho para gerar eletricidade, e bombear água.

Aos 22, em palestra para o TED, conta com suas próprias palavras como ele conseguiu dominar o vento, e por de pé uma plateia repleta de azungu.

(clique em view subtitles para ativar legendas em Português)

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