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sábado, 13 de junho de 2009

Professores pré-históricos na Era da Informação - Parte I

Sempre fui um sujeito contestador. Nunca aceitei imposições sem uma devida justificativa. Daí, você já pode imaginar que eu tive muitos conflitos com meus professores! - Professores tradicionalmente gostam de impor métodos e dogmas aos seus alunos, e eu sempre gostei de procurar caminhos alternativos, e confrontar resultados.
Quando eu estava no curso técnico de Eletrônica, tive uma professora de matemática que proibia o uso de calculadora(*), e nos obrigava a usar tabelas trigonométricas e de logaritmos para resolver os problemas (se você não sabe que tabelas são essas, sorte sua!). Um dia, quando eu questionei essa arbitrariedade, ela argumentou que "se você ficar dependente da calculadora, o que fará no dia que esquecê-la em casa?"; o meu contra-argumento, na bucha, foi: "e o que a senhora fará no dia que esquecer suas tabelas em casa?". Isso rendeu um grande bate-boca, que se estendeu por todo o período.
Algum tempo depois, já no curso de Engenharia, deparei-me com um professor de Desenho que queria nos ensinar métodos arcanos para dividir uma circunferência em n partes iguais, usando somente compasso e esquadros. Eu juro que tentei ficar calado, mas não resisti. Depois do quarto ou quinto método, questionei: "professor, porque não podemos simplesmente dividir 360 / n e marcar as divisões usando um transferidor?"(**). Você imagina qual foi a resposta dele? - acredite se quiser: seu argumento foi: "e o que você fará quando não tiver um transferidor por perto?"... impressionante! professores tão distantes, no espaço e no tempo, tinham o mesmo argumento irracional! - e eu já tinha uma resposta na ponta da língua para esse argumento!

A lista é longa, e eu poderia contar aqui vários outros casos semelhantes. O fato é que professores se habituam a ensinar alguma coisa que já foi útil em alguma época, e muitas vezes não param para refletir sobre a utilidade daquilo no momento presente. Pior: esses dois casos demonstram que professores tendem a confundir um método particular com o conceito geral. Não importa a época, sempre será necessário usar logaritmos ou trigonometria; esses são conceitos que devem ser bem compreendidos, independente da época. O método de resolução, entretanto, depende da tecnologia disponível na época. No passado, usavam-se tabelas e réguas de cálculo, depois calculadoras, planilhas eletrônicas, e aplicativos para manipulação algébrica.

Infelizmente, muitos professores continuam proibindo (ou tentando proibir) o acesso dos alunos a novas ferramentas e tecnologias, julgando que elas tiram do aluno o "mérito" pela resolução do problema. Nessa semana, coincidentemente, li dois artigos discutindo casos como esses, em escolas americanas.

Discuto esses dois casos nas partes II e III deste artigo.

(*) - isso foi em 1986, e antes que algum engraçadinho pergunte, já existiam calculadoras eletrônicas nessa época, sim!
(**) - isso foi em 1990, e os CADs ainda não eram tão acessíveis como hoje - o desenho era feito no papel, mesmo, usando-se lápis, esquadros, compasso e... transferidor.

2 comentários:

Edson Menezes disse...

Brilhante texto Fábio ! Realmente, como professores, continuamos "fossilizados" e, nosso locus, as escolas, na mesma política do feijão com arroz.

Quando puder entre nos links abaixo do Open Innovatio :

1.Querem Inovar ? Que tal começar pelo ensino !
2.Avanço Tecnológico desafia formação acadêmica.

Os artigos só ratificam seu pensamento e mostram que seu pensar tornou-se uma preocupação de outros: ainda poucos,infelizmente, claro!

Unknown disse...

No caso do desenho geométrico o problema é que seu professor não soube argumentar. Não se compara a precisão da divisão utilizando compasso e esquadros com a marcação usando um transferidor. Como alguem que fez engenharia vc deveria saber também que a propagação do erro pode comprometer completamente o resultado final. Compasso e esquadros ainda são insubstituíveis. (Claro, quando não estiver usando softwares CAD).

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