Páginas

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

OLPC XO-2 terá hardware livre

O projeto OLPC (Um Laptop por Criança), idealizado e capitaneado por Nicholas Negroponte, se prepara para entrar em uma nova fase.

Oficialmente, o projeto nasceu há exatos 4 anos, em janeiro de 2005, no fórum econômico de Davos, quando Nicholas expôs sua ideia visionária, quase utópica, de revolucionar a educação com a distribuição de um laptop para cada criança, no mundo inteiro. Seu plano era criar um produto atraente, com conceitos inovadores, e vender milhões de unidades nos países ricos, para assim reduzir os custos de produção (por economia de escala) e subsidiar a distribuição gratuita nos países mais pobres.

Após 4 anos, a primeira versão do laptop, o XO-1, pode comemorar um relativo sucesso. Em meio a problemas com desenvolvedores, acordos frustrados com grandes parceiros, e adaptações nos rumos do próprio projeto, Nicholas se mantém otimista:
"Há mais de 600.000 laptops distribuídos, 250.000 em trânsito, e outros 380.000 em produção, logo são cerca de 1,2 milhão de unidades. Trinta e um países, em 19 linguagens, são as estatísticas exatas. É menos do que eu havia antecipado, mas ainda assim é gratificante."
Primeira geração: XO-1
(clique para ampliar)

A nova versão do laptop da OLPC, o XO-2, teve seu primeiro protótipo apresentado em maio de 2008, e traz um novo conceito:
"A primeira geração é um laptop que pode ser um livro; a próxima geração será um livro, que pode ser um laptop"
Segunda geração: XO-2
(clique para ampliar)

E o conceito desse novo notebook é realmente inovador. A novidade que mais me agradou, entretanto, foi a intenção de desenvolvê-lo como um projeto de hardware livre. Segundo Negroponte:
"Uma coisa importante sobre o XO-2 é que vamos fazê-lo como um programa de hardware livre. O XO-1 foi realmente projetado como se fôssemos a Apple. O XO-2 será projetado como se fôssemos o Google - vamos querer que as pessoas copiem ele. Faremos seus componentes disponíveis. Tentaremos usar uma abordagem exatamente oposta à que adotamos com o XO-1"
Outro ponto interessante sobre o XO-2 é que ele tem apelo comercial para consumidores ocidentais, como um leitor para e-books, e há potencialmente um mercado de massa, para o preço-alvo de $75,00. Por ser um projeto livre, empresas como Asus ou Acer podem fabricá-lo, sem terem que pagar royalties à OLPC.

Um projeto que foi iniciado para ajudar crianças em países em desenvolvimento pode acabar ajudando também crianças no ocidente. "Eu não reclamaria", diz Nicholas.

Fonte: The Guardian

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Apple ganha patente para interface do iPhone

A patente, intitulada "Touch screen device, method, and graphical user interface for determining commands by applying heuristics", descreve o uso de displays multi-toque, a definição de gestos com múltiplos pontos de toque, e a aplicação de heurísticas para identificar esses gestos e associá-los a comandos, tais como "executar aplicativo", "mudar de página", ou "zoom". Em resumo: a patente descreve o comportamento da interface do iPhone e de outros produtos da Apple, além das tecnologias que implementam esse comportamento.

A aprovação dessa patente chega em momento certo para incendiar a guerra que se anuncia entre a Apple e a Palm, com o lançamento do Palm Pre - concorrente direto do iPhone, que implementa uma interface muito semelhante. Um dia após a aprovação da patente, Tim Cook, que atualmente substitui Steve Jobs no comando da Apple, fez declarações agressivas, deixando claro, sem citar nomes, que a Apple "gosta de competição, desde que suas Propriedades Intelectuais não sejam desrespeitadas".

A questão central, aqui, é discutir se o sistema de patentes, em casos semelhantes a esse, contribuem ou não para o desenvolvimento tecnológico global.

É claro que a Apple investiu tempo e dinheiro no desenvolvimento da interface do iPhone, e merece crédito por isso. Nenhuma empresa tem o direito de "roubar" ou "copiar" as tecnologias (algoritmos, heurísticas, códigos) que fazem essa interface funcionar, mas... seria justo impedir que outras empresas imitem, com implementação própria, o "estilo" ou o "comportamento" dessa interface?

No mundo dos sistemas computacionais, principalmente nos Sistemas Embarcados, é cada vez mais nebulosa a linha que distingue entre funcionalidade e implementação, conceito e tecnologia. Nesse ambiente nebuloso, o sistema de patentes pode gerar mais problemas que soluções, e pode estimular mais investimentos nos departamentos jurídicos, que nos de P&D.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Adolescentes são enquadrados por pornografia infantil nos EUA

Três garotas, que supostamente enviaram de seus celulares fotos de si mesmas, nuas ou seminuas, e três garotos, que receberam as imagens, foram acusados de pornografia infantil, pela polícia da Pensilvânia, nos EUA. Todos os adolescentes, que têm idade entre 14 e 17 anos, estudam na mesma escola.

A polícia informou que funcionários da escola perceberam que um(a) estudante foi visto(a) usando um celular durante a aula, o que é proibido na escola. O aparelho então foi apreendido, e as fotos foram encontradas. A investigação policial levou aos outros celulares, com mais fotos.

As garotas estão sendo acusadas de produção, distribuição e posse de pornografia infantil, e os garotos são acusados de posse.

Várias coisas surpreendem nessa curta notícia:

Em primeiro lugar, tudo bem ser proibido usar o celular durante as aulas - acho até que todas as escolas daqui deveriam adotar a mesma prática, mas... é correto um funcionário da escola apreender e bisbilhotar o aparelho, ao ponto de encontrar as fotos? Do meu ponto de vista, isso é invasão de privacidade.

Segundo, é realmente esse o encaminhamento adequado para o caso em questão? Não conheço as leis da Pensilvânia, mas acredito que lá, assim como aqui no Brasil, a intenção da lei é proteger as crianças e adolescentes contra a exploração por parte de terceiros, adultos ou não, mas não foi esse o caso.

As garotas tiraram fotos de si mesmas, aparentemente sozinhas, espontaneamente, e enviaram para os colegas. Nada indica que os garotos tenham, sequer, "induzido" as colegas a tirarem as fotos, tanto é que estão sendo acusados apenas pela posse das imagens. Se algum desses adolescentes tivesse vazado as fotos publicamente, para quaisquer outras pessoas, poderíamos até falar em crime de "distribuição", mas, até onde a imprensa relata, as imagens estavam restritas a esse pequeno grupo de amigos.

Para mim, isso foi uma brincadeira de adolescentes, nada mais. É claro que foi uma brincadeira inadequada, e eles deveriam ser orientados a não repeti-la. Argumentos para isso não faltam.

Em vez de levar o caso à polícia, e transformar uma brincadeira privada em um fato com repercussão internacional, a escola poderia ter chamado os pais e alunos envolvidos para uma conversa reservada - talvez até com a presença de uma autoridade, tipo "conselho tutelar"... esses adolescentes poderiam até ser repreendidos, pegar uma suspensão, ficar de castigo em casa, perder os celulares por um tempo... mas jamais serem acusados criminalmente de produção, distribuição e posse de material pornográfico.

Se houve um crime, nessa história toda, foi do funcionário da escola, que invadiu o celular, sem um mandado.

A questão que fica no ar é se a escola agiu dessa forma porque as leis da Pensilvânia assim determinam, ou se foi realmente falta de sensibilidade dos dirigentes. No Brasil, nosso Legislativo está discutindo leis sobre "pedofilia" e "crimes digitais". Em alguns pontos, essas leis até se cruzam, criando possibilidades para que casos absurdos, como esse, aconteçam por aqui.

notícia publicada na Folha Online,
informações adicionais (em inglês): WXPI, Pittsburg

Artigos mais recentes:

Artigos mais lidos:

.