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sábado, 13 de junho de 2009

Professores pré-históricos na Era da Informação - Parte III

O Google causou uma revolução no acesso à informação, ao disponibilizar gratuitamente uma ferramenta de buscas suficientemente inteligente para trazer as informações mais relevantes para uma dada pesquisa, com uma interface tão simples que qualquer pessoa - mesmo quem não tem qualquer intimidade com computadores - pode usar.

Agora, a Wolfram Research, desenvolvedora do já conhecido Mathematica, lançou o Wolfram Alpha, uma ferramenta on-line de computação de conhecimento, com uma certa capacidade de processamento de linguagem natural, que é capaz de solucionar problemas em diversas áreas do conhecimento, com uma interface quase tão simples e fácil de usar quanto a do Google.


Assim como o Google trouxe grande mudança na forma como alunos buscam soluções para seus trabalhos escolares, provocando profundas discussões entre professores sobre o mérito dos alunos na elaboração desses trabalhos, o Wolfram Alpha promete o mesmo.

Esse artigo traz uma excelente discussão sobre o receio que alguns professores estão enfrentando com o lançamento dessa nova ferramenta. Resumi abaixo algumas citações:
"Considerando que ainda há professores e departamentos nos EUA onde calculadoras gráficas ainda não são permitidas, alguns professores provavelmente irão reagir com resistência (em adotar essa ferramenta em suas aulas), ou mesmo com acusações de que seu uso possa ser considerado como uma forma de trapaça." -- Prof. Maria Andersen, Teaching College Math.

"Nos próximos semestres, nós teremos estudantes em nossas aulas perguntando 'Por que não podemos usar o Wolfram Alpha?'. Estamos tentando discutir ao máximo essa questão agora, para que nossos colegas não sejam surpreendidos por esse tipo de questionamento." -- Prof. Derek Bruff, Walpha Wiki - Teaching Undergraduate Math with Wolfram|Alpha

Para mim, o problema não está no uso dessas novas ferramentas e recursos tecnológicos, e sim na forma como os professores tentam avaliar o desempenho de seus alunos.

Na minha época de estudante, os professores pediam que fôssemos a uma biblioteca, para "pesquisar" sobre um determinado tema. O que os alunos faziam? iam até a biblioteca (*), tiravam fotocópias de um texto qualquer sobre aquele assunto (geralmente de uma enciclopédia), e depois transcreviam esse texto à mão (**), mudando algumas palavras, para tentar disfarçar.

Hoje, os professores continuam pedindo os mesmos tipos de trabalhos, mas os alunos se modernizaram: eles sentam-se diante de um computador, digitam o tema do trabalho no Google, copiam o primeiro texto que aparece como resposta (CTRL-C), colam no editor de textos (CTRL-V), imprimem com uma capa bacana, e pronto.

Nada mudou. Professores passam tarefas desinteressantes, mecânicas, e os alunos procuram o jeito mais fácil de se livrar daquela chatice. No passado, os alunos ainda podiam memorizar alguma coisa, enquanto copiavam o texto à mão. Hoje, os alunos não têm a menor chance de memorizar, porque a cópia e impressão são automáticas. Mas não podemos atribuir essa "piora de desempenho" à nova tecnologia! - a raiz do problema reside na forma irracional como os professores elaboram as tarefas.

Com o Wolfram Alpha, os alunos podem obter as soluções, passo a passo, para todos os problemas das tradicionais "listas de exercícios", com a mesma facilidade com que obtêm textos para os "trabalhos escolares" através do Google. Se os professores de matemática continuarem pedindo para os alunos resolverem apenas equações, eles passarão a aplicar a mesma técnica CTRL-C / CTRL-V que já aplicam para as outras disciplinas.

Para o próprio Stephen Wolfram, "essa é a natureza do progresso (...) a tecnologia sempre permite fazer mais e mais coisas automaticamente."

A escola precisa entender e aceitar isso. É preciso reformular as tarefas escolares, e todo o processo de avaliação do desempenho do aluno, colocando o foco na compreensão, interpretação e raciocínio, em vez da reprodução de conteúdos e técnicas.

Se uma ferramenta permite resolver e visualizar automaticamente problemas algébricos complicados, isso é ótimo! pois permite que eu explore mais e mais problemas, situações e variações com meus alunos!

Se os alunos podem usar essa ferramenta para responder automaticamente suas listas de exercícios, cabe ao professor elaborar questões onde o raciocínio seja mais importante que a técnica algébrica!


Na Era da Informação, encontrar as respostas certas tornou-se muito fácil... que tal, então, estimular os alunos a fazerem as perguntas certas???


Essa é a parte III de uma série. Leia também as partes I e II.


(*) - estou falando dos anos 1980... a web ainda não existia, e muito menos o Google!

(**) - pois é... também não era muito comum ter computadores e impressoras em casa, nem na escola, naquela época


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5 comentários:

Rafael Motta disse...

muito legal essa série, li tds os posts...infelizmente é assim até hj

Anônimo disse...

E quando um professor estimula os alunos a fazerem as perguntas o que acontece?

1) Alunos fazem boicote e conseguem trocar o professor. Aconteceu em 2004 eu fui testemunha ocular. É, isso não é aluno, pode ser tudo, menos aluno, mas me arrisco a dizer que uma grande parte de 'alunos' fariam o mesmo.

2) A direção da escola se antecipa aos alunos e põe o professor na linha ou rua.

Solução? 2012?

Anônimo disse...

Me lembro que na minha oitava série, meu professor de matemática me passou uma lista de 100 equações de segundo grau para encontrar as raízes, máximo/mínimo e o gráfico.

Tive preguiça de resolver as 100 equações 'na mão'. Fiz um programa em BASIC, onde eu colocava os coeficientes e o programa imprimia a resposta.

O programa acabou sendo apresentado na feira de ciências da escola...

Hoje sou um programador profissional.

Anônimo disse...

Eu lembro que no colegial tecnico estavamos aprendendo conversão de binario pra decimal etc... então fiz um programa em BASIC que convertia qualquer numero de qualquer base para qualquer outra base.
Hoje sou programador profissional.

Anônimo disse...

Ah sim, qualquer base até o limite de caracteres que eu poderia usar para representar os dígitos.

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